quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A fila


O sol ainda não saiu, a brisa da madrugada ainda passa uivando entre as árvores. Nesse momento é até possível ouvir o silêncio.

Ao sair de casa tem-se a sensação de que nada acontece no mundo, que tudo está dormindo.

Até o momento que o destino se aproxima. Carros estacionados ao redor do estádio, pessoas andando no mesmo sentido, formando uma multidão. E o frio na barriga, que vem de repente e sem avisar, transforma-se na euforia de ver a imensa fila de gente com brilho no olhar. Cadeiras e barracas, sacos de dormir e garrafas de café, baralho e dominó, cerveja e pinga...tudo isso por um amor, uma só paixão...

Fui em busca do meu lugar na fila e já passando pelo começo, alguns que estavam com a barba por fazer há muito tempo disseram..."tamo aqui desde domingo, você tá chegando agora? Num vai dá não heim!!!". Fiquei irredutível. Continuei meu percurso até o final da fila. Nesse momento o sol começava nascer, esquentando todos aqueles que passaram dias ali, e a claridade me mostrou o que eu já temia. A fila não tinha fim!

Só um milagre faria eu comprar os ingressos. Após alguns minutos de fila, outra multidão já se formava atrás de mim. Gente de todo tipo. Avôs, netos, pais, mães, criança de colo, adolescentes, desempregados, executivos, operários, casal de namorados, grupo de amigos, famílias inteiras, gente sozinha ou fazendo amizade...O Brasil estava ali.

Era muita gente mesmo. Todos que estavam ao alcance da minha visão, já sentiam que não ia dar, que os ingressos iriam acabar. Mas ao mesmo tempo, todos tinham aquele brio, aquela garra de quem sabe o que quer.


Nove horas. Abrem-se as bilheterias. Dez e meia. Nem um sinal de movimento na fila. Onze e meia. Já podia ver gente desistindo e voltando na direção contrária dizendo... "Acabou!!! Já era!!".


Não conseguíamos ver o começo da fila, era um desespero, ninguém sabia o que realmente estava acontecendo. Só ouviamos e viamos as pessoas voltando dizendo "acabou".
E o engraçado é que todos ali fingiam não escutar. Desviavam olhar ou até mesmo retrucavam... "Mentira!!", "Você tá louco?".

E assim foi até que a fila andou e chegamos perto da bilheteria. Conseguimos ver a verdade de perto. Ela já estava fechada!

Mas então porque muita gente ainda continuava ali? Não tinha mais ingressos! E todos ali, parados. Esperando o quê? A polícia já tinha indo embora, não havia mais funcionários, só os torcedores. E mesmo assim, o povo lá!

Fiquei até não aguentar. Desejei boa sorte para os meus vizinhos e saí. A fome e o calor do meio dia venceram e fui mais um, que ia na direção contrária da fila dizendo... "Gente, acabou mesmo!"

Dava pra perceber em cada um que ficava, que lutariam até o fim, mesmo que tudo estivesse contra. Para os desavisados, pareceria burrice. Para eles era uma esperança. A esperança de um milagre, que poderia vir no último instante, quando tudo estava perdido. Eles estão acostumados a isso (essas coisas de último segundo e esperar o impossível...).

Você sabe o que é o impossível?

Pois é,

eles também!


A diferença é que eles são corinthianos. E não importa o que aconteça. Eles ficam até o final!

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