sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Crônica de um velho que não sabe onde e nem quando nasceu.

Ontem estive um pouco confuso e muito incerto. Depois de engolir nossas diferenças a seco, sem ao menos uma coca-cola pra acompanhar, não consegui mais pensar em nada, a não ser no limite de nosso convívio harmonioso. Afinal, nessas idas e vindas nos derramamos pelo chão mais do que devíamos. Toda essa intensidade foi desde o começo. Um dia você exagerava no outro quem passava do ponto era eu.

No início, o primeiro gole é sedutor, refrescante. E dali em diante, a euforia aumenta junto com a vontade avassaladora como em um dia de calor. Então, descubro que não consigo mais te abandonar. "Afinal, você me faz tão bem!"

Ah.. aqueles momentos! Em que essa frase não saia de minha boca... "você me faz tão bem"...

Os tempos mudaram. Hoje você me faz mal.

Mesmo assim não consigo me controlar. Eu preciso de você, como todas aquelas comparações piegas de abacate sem caroço e coisa e tal. Faz mal mesmo assim. Um vício que não consigo abandonar. E o efêmero e o fugaz tomam conta de tudo ao meu redor.

Mas hoje não! Estamos aqui, sozinhos, sentados frente a frente. E eu te fito com meus olhos secos, mesmo com seu ar úmido de lágrimas. Hoje não quero mais sentir seu gosto, não quero te beber gelada, não quero pedir mais. Aqui será apenas um copo e nada mais. E ao ficar vazio, não encherei novamente, você ficará enclausurada. Esquentará na garrafa e perderá o ponto, a ponto de ninguém querer-te mais. A ponto de ficar intragável. E sua alma será jogada fora. Apenas restará seu corpo, moreno. E, a não ser que se estilhace pelo chão, seu corpo terá um bom destino, alguém saberá degustar sua nova alma, quente ou estupidamente gelada.

Mas...

Hoje não. Cansei de suas promessas. Não quero seus deleites.

Minha querida cerveja. Hoje te deixo na mesa sem desejar um futuro melhor e vou embora. Só por amanhã me lembrarei dessa noite. Sentirei seu gosto amargo em minha boca e vou te trocar.

Não se preocupe, a troca é justa, ela não é como você. Ela é calma, serena e sem graça. Mas no momento em que nada mais desce, é dela que preciso. Por sua culpa a desejei em algumas madrugadas.

Saiba que você até tem um pouco dela em você, mas sua parte boa é o seu pior.

Ontem estive um pouco confuso e muito incerto. Culpa tua!

Amanhã só beberei água!

"Espero te ver nunca mais
ou até durar o seu amargor,
o que vier primeiro"