quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O mínimo impulso elétrico supraventricular




O tempo parou. O vento parou. A lua sumiu. O sol morreu. A chuva secou. O gelo queimou. A vida sumiu. O norte se perdeu. A maré nunca mais encheu. O verbo deixou de ser conjugado. Os versos não eram mais cantados. Até mesmo o silêncio não se ouvia mais. Todas as flores murcharam, e com elas se foram as cores. Todos os bichos fugiram, e com eles se foi o amor. E assim se passou cem mil anos e cem mil histórias que não faziam mais diferença. Era como um segundo, era como uma pausa. Uma pausa sem volta. E assim a Terra parou.

(...)

Até que, dentro de um coração fraco, que tanto pulsava e naquele dia também parou, um mínimo impulso elétrico percorreu seus meio-fios e se espalhou supraventricularmente..... até que....até que...até que..até que, até que ele volta a bater. E agora bate forte. O coração. O coração do mundo. O mundo. Que é eu. Que é você. Que é todo mundo.

(...)

E foi assim... que tempo e vento continuaram seu caminho, que sol e lua se eclipsaram, que chuva e gelo se misturaram, que norte e vida se encontraram, que verbo e versos se declinaram, que flores, cores, bichos e amores se abraçaram. O silêncio era apenas uma pausa, um segundo em cem mil horas.

E foi assim que salvaram o mundo. E enfim tudo se ajeitou.

Não era necessário superpoderes ou algorítimos metafísicos complexos, mas tão só um simples e mínimo impulso elétrico.