segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Hotel Demasiado

Quartos vazios, o letreiro piscava sincopado,
um restinho de neon ainda brilhava.
Ouviam-se pingos de uma torneira mal fechada
em cada canto daquele prédio mal cuidado.
Disse "ouvia-se", pois de fato era indeterminado
se havia alguém presente. Se houvesse estava oculto.
Há algum tempo não havia um hóspede registrado.
Quem passava perto, tinha medo, diziam até de um vulto
que perambulava de dia mas parava quando escuro.
Não há quem diga que não era uma velhinha,
que de tão velha ficou bem pequenininha,
agora assusta a todos com sua vassoura e varinha,
A chamam de bruxa, a bruxa do Hotel Demasiado.
Não se sabia do rosto, sua história ou quem era,
parecia que passava a vida inteira ali, inerte,
quando na verdade, ninguém sabia, mas era claro,
passou a vida assustando sem ganhar nenhum trocado.
Viveu a velhice sem alguém, com ninguém, e na espera.
O que se sabe é que a velha morreu, um sopro inesperado.
Pois viveu, viveu, viveu e morreu.
Morreu sem saber. Sem saber como era.
Como era ter um neto para ser abraçado.
Esse era o segredo do Hotel Demasiado.